4 de mai. de 2012

A pop art, Andy Warhol e o Google Doodle de ontem


A pop art é fascinantemente contraditória. Ao mesmo tempo em que critica tudo o que se insere no estilo de vida consumista, o movimento artístico também é uma ode ao pop e ao banal. E não se pode dizer ao certo onde termina a crítica e onde começa a idolatria, porque uma depende da outra e ambas acontecem ao mesmo tempo. É uma ironia que ninguém sabe ao certo como vai funcionar. O que é irônico, porque o intuito da ironia é justamente que se entenda o contrário do que se está a dizer, e na pop art o tiro pode sair pela culatra.

Foi-se a época em que gostar de Andy Warhol e de Roy Lichtenstein era sinônimo de cool. Na verdade essa época não passou dos anos 80, mas alguns desavisados ainda proclamam amor incondicional a eles e se acham as últimas latas de sopa Campbell’s do supermercado.

Na rebarba desses dois, vêm os brasileiros Romero Britto e Vik Muniz, ambos já famosos internacionalmente antes de serem reconhecidos no Brasil – típico. E Britto está para Lichtenstein assim como Muniz está para Warhol.


Eu mesmo tive em meu quarto um pôster/quadro do Romero Britto por alguns anos e confesso, gosto de suas harmonias cromáticas e de seu estilo naïf, sempre exaltando a alegria, como se o mundo fosse um Instagram sem fim. Mas, já diria Dado Dolabella: o cara traiu o movimento.


A publicidade sempre bebeu das artes plásticas, e Toulouse-Lautrec é um ótimo exemplo disso. Mas às vezes o gole é grande de mais – e acaba dando indigestão. A romerobritização de commoditıes nos supermercados chegou a tal ponto que, ao mesmo tempo, o artista assinava caixas de sabão em pó, garrafas e latas de refrigerante, chinelos, copos e mais um monte de produtos que, provavelmente, nem ele lembra mais. Sem dúvidas, Britto encheu os bolsos – e encheu o nosso saco.


Já a história de Vik Muniz é bem interessante, e, apesar do melodrama típico de programas de TV estilo Dia de Princesa, seu documentário Lixo Extraordinário (Waste Land) merece atenção. No trabalho de Vik, é perceptível o intuito de se procurar a arte onde ela inexiste e de disponibilizá-la a muitos. E isso o levou ao cúmulo de criar uma abertura para a novela Passione. Não precisa ser nenhum gênio pra saber o que acontece quando seu trabalho é transmitido seis dias por semanas a milhões de pessoas ao redor do mundo: cansa!

Pra completar o Bonde da Pop Art, trago ao time o homenageado de ontem pelo Google: Keith Haring. Keith é um dos grandes expoentes da pop art e seu envolvimento social é louvável. Tudo andava bem, até que ano passado os detentores dos direitos autorais de seu trabalho resolveram entrar no funk do consumo e, em parceria com a Zara, lançaram uma coleção de t-shirts com a obra do artista. Sem me prolongar: usaram uma arte de protesto, e que outrora servia a projetos sociais, para encher os bolsos de uma megacorporação que terceiriza trabalho escravo.


Nessa ironia da ironia da ironia da ironia que ninguém mais sabe o verdadeiro propósito – se é que ainda há algum – eu quase posso ouvir a risada irônica de Andy Warhol, enquanto assiste à novela Passione e lava sua t-shirt da Zara com Omo Multiação.


A crítica à relação arte-consumo não vem de hoje, e meu ponto de vista é só mais um no meio de tantos outros irrelevantes. Por isso, quem quiser pesquisar mais sobre o assunto, procure por Walter Benjamin + A Obra de Arte na Era de Sua Reprodutibilidade Técnica. Aposto que é mais interessante que o look do dia daquele blog de moda que você lê.

2 comentários:

  1. O senhor anda cada vez mais "bufo na cara dos outros" não é mesmo???
    kkkkkkkkkk...
    Por isso te amo!! ;]
    Gostei! Não nego que adoro meu copo do pão de açúcar com a borboleta do Romero Britto! kkkkk... É meu favorito!! #]
    Mas brincadeiras a parte... Entendo tudo que você quer dizer!
    Gosto de ler isso aqui! Me sinto conversando contigo!! =*

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  2. ((((Aposto que é mais interessante que o look do dia daquele blog de moda que você lê))))

    hahahahaHAHhaHA!

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