28 de dez. de 2011

Laranja fluorescente

Hoje completa um ano que eu cheguei a Guimarães. Exatamente 365 dias atrás eu estava na livraria do aeroporto Pinto Martins, acompanhado de minha família e de alguns grandes amigos, procurando algum livro para se unir à minha pessoa durante o vôo Fortaleza – Porto com escala em Lisboa. Minha vida estava prestes a sofrer uma daquelas mudanças singulares e, naquele momento, eu me preocupava em escolher um livro.

Eram muitas capas, muitos gêneros, muitas opções a serem analisadas antes que o portão de embarque fechasse. Alguns minutos se passaram e, finalmente, eu estava com um livro em mãos. Um livro de capa laranja fluorescente do qual eu nunca ouvira falar. Na sala de embarque todo mundo parecia ou feliz ou ocupado demais para demonstrar qualquer emoção. Os monitores avisavam que o vôo atrasaria uma hora e me pareceu um bom pretexto para abrir o livro antes do esperado.

Olhei fixamente a primeira página durante alguns demorados segundos e percorri frases que não me faziam sentido algum. Li e reli incontáveis vezes o primeiro parágrafo esperando que ele libertasse minha cabeça da confusão que, finalmente, se estabelecia. Como costumam dizer: a ficha caiu.

Forcei-me mais um pouco a entrar naquele universo de palavras que iria me guiar por estórias vividas por outras personagens quando, naquele momento, eu estava prestes a escrever mais um capítulo da minha própria história. A ocasião não me favorecia entrar numa estória que não fosse a minha. Não naquele momento, não naquele lugar, não naquele duelo entre saudade e ansiedade que se passava na minha cabeça. Continuei a encarar o livro mesmo assim.

Esforçado para parecer concentrado no livro a quem olhasse de fora, passei a primeira página. Um pedaço de papel caiu no chão e, sem saber do que se tratava, apanhei-o rapidamente. Era uma foto minha e de minha irmã que ela escondera entre as páginas do livro, sem que eu percebesse, quando o pousei sobre a mesa durante meu último lanche antes de passar pela segurança.

Num impulso, levantei-me e corri em direção ao telefone público mais próximo. Liguei a cobrar para casa e tive uma conversa rápida com minha mãe e irmãs cujo teor não me recordo, talvez devido à adrenalina liberada durante aquela tempestade de perguntas que eu fazia a mim mesmo. O que ia acontecer nos próximos dias? E nos próximos meses? E daqui a um ano?

Assim como o livro da capa laranja fluorescente, eu só saberia o que ia acontecer depois que chegasse o final. Não faria sentido algum espiar a última página sem antes percorrer toda a estória, sem antes conhecer os personagens, cenários e situações que ilustrariam o caminho até o fim. Em vez de me preocupar com o final da história e com o destino do personagem, hoje me parece que a pergunta mais adequada a fazer àquela altura seria: Afinal, que livro você quer ler?