27 de abr. de 2012

“Que diabo é moda, heim”?

Essa é a pergunta feita em um dos pontos máximos do espetáculo Catálogo, que assisti em 2010 pouco antes de sair do Brasil, de autoria do cearense Rafael Martins. A pergunta é feita em um programa de TV por uma mulher desdentada, mal amanhada e mal vestida. A entrevistada, uma estilista aclamada pela high society e pelos fashionistas, gagueja e, sem saber o que responder, finge um desmaio.

Como eu pude ficar intimidada por uma pergunta feita por uma mulher tão comum e ordinária e que está ‘abaixo’ de mim? é o que passa pela cabeça da estilista. A cena em questão me trouxe algumas reflexões, mas acho pouco provável que ela aconteça em qualquer programa de TV da atualidade, e vos dou dois motivos para isso.

O primeiro é quanto à pergunta o que é moda?. Hoje em dia, poucos são os que têm a coragem de fazer esse questionamento, seja para alguém, seja para si mesmo. Supostamente a moda está em tudo e em todos, e por ser onipresente, não há vontade de questioná-la ou defini-la. Seria o mesmo que perguntar quem é Deus? em uma sociedade predominantemente cristã. Uma pergunta aparentemente sem sentido, da qual se ri, quando, na verdade, poderia gerar reflexões interessantes. 

O segundo motivo é quanto à resposta. Hoje o acesso à informação (e também sua produção) é livre, fácil e rápido e qualquer um pode obtê-lo. A informação, que é uma mercadoria, tem valor e gera fetiche, como qualquer outro bem de consumo. Entretanto, como um bem de consumo não palpável, é mais facilmente falsificada, fingida, ultrajada, e qualquer um que queira se aproveitar de uma audiência propícia a ser enganada pode fazê-lo. Assim, ao ser indagado sobre o significado da moda, é mais apreciado responder qualquer coisa, mas qualquer coisa mesmo, do que ficar em silêncio. O que é uma pena, porque o silêncio às vezes é uma bênção.

Pra fechar, um desabafo já clássico proferido pela amiga Cecília:


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