26 de jan. de 2012

Uma nostalgia que não é minha

Há muito tempo, numa época na qual eu e você achamos ter vivido mas, na verdade, só chegamos a testemunhar seu último suspiro, existia a fotografia. Era algo sagrado, que transcendia o físico, que imprimia memórias, que sucitava emoções, que dançava uma valsa entre a fantasia e o real. Acontece, meu amigo, que a fotografia foi-se embora pra Pasárgada.


Saudosismo barato. Nostalgia boba. Chame do que quiser. Mas muda-se o tempo e com ele mudam-se as coisas, e muda-se também nossa relação com essas coisas. A fotografia sofreu uma revolução, com tudo de bom e de ruim que uma revolução traz consigo.

Hoje o amigo Google me presenteou com uma série de fotografias magníficas do também magnífico Henri de Toulouse-Lautrec. Nas imagens em questão, o meu pintor francês anão do século XIX preferido está cagando. Literalmente e não.


Repare na graciosidade dele. Na envergadura adquirida para o ato. Na cútis imaculada que cobre seus glúteos. E last, but not least, no resultado de tanta força e empenho empregados: um singelo cocô.
Maurice Joyant, amigo de Lautrec, é o autor da foto, que foi tirada na dita fase de decadência do pintor, um ano antes do mesmo ser internado em um asilo. A ocasião? Joyant queria animar o amigo, que passava por uma fase difícil e tentava compensá-la com excessos de álcool e boemia. Lautrec viria a falecer após três anos, e as fotos entrariam para a história como uma lembrança da amizade de ambos - e, claro, como prova do bom funcionamento intestinal de Lautrec. 

O meu ponto é: já houve uma compreensão da fotografia cotidiana como algo que transmite uma mensagem. Algo dotado de um contexto que, ao mesmo tempo, retrata e transcende a relação fotógrafo-fotografado. A beleza dessas fotografias não estava somente nas cores, nos contrastes, nos ângulos e no foco, mas numa poesia às vezes alheia e às vezes envolta em tudo isso.

Hoje, para além do bombardeio de imagens que sofremos, há uma grande facilidade de se produzirem e se reproduzirem fotografias, e uma busca pela perfeição por meio de sucetivos disparos à procura do melhor resultado. Acontece que o melhor resultado estético nem sempre está ligado ao melhor resultado poético. O pop matou a poesia, I rest my case.

Recomendo imenso uma visita ao blog Iconic Photos, que faz um apanhado de fotografias deslumbrantes (demorei minutos pra pensar em um adjetivo à altura das fotografias e ainda acho que esse não é suficiente) acompanhadas de comentários muito interessantes.

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